Entre ritmo e poesia. Racismo, política e gênero na Ásia como centro do debate no Ocidente.
Por FELIPE VIVEIROS*
Já reparou que embora cerca de 60% da população mundial viva na Ásia, a presença de artistas asiáticos na música ocidental é escassa?
K-POP é importante, mas não é suficiente.
Compositores e produtores asiáticos estão cientes de sua sub-representação e tem erguido, cada vez mais, pontes entre as culturas oriental e ocidental. As conexões são feitas de rimas, que se sustentam entre o ritmo e a poesia, fazendo com que os “dois mundos” sejam um só.
É comum que os rappers do sudeste asiático falem vários idiomas, em uma região que vive a energia e sinergia das ruas em malaio, mandarim, siamês, tagalo e inglês. Com a explosão do trap nos EUA, e da cena contemporânea do hip-hop internacional, artistas do sudeste da Ásia criam (re)fluxos a partir de suas línguas nativas e o inglês.
A mescla de línguas e estilos permite que a Ásia seja parte do repertório do outro lado do Planeta, trazendo histórias de racismo, política e gênero locais para o centro do debate no Ocidente.
Aumente o som e oriente-se! Conheça o rap do Sudeste Asiático.
RAMENGVRL
País: Indonésia
A rapper e produtora Ramengvrl é conhecida por fazer trap com letras que desafiam o status quo de uma indústria sonora ainda patriarcal e sexista. Em países como a Indonésia, artistas normalmente se internacionalizam ao criarem canções pop em inglês. Ramengvrl é diferente. A jovem tem mentalidade pós-colonial e quer ver os estilos asiáticos “invadirem” as indústrias norte-americana e europeia.
FARIZ JABBA
País: Cingapura
Irmão mais novo do comediante cingapuriano Fakkah Fuzz, Fariz Jabba escreve a maioria de suas letras em malaio. Com influência das músicas eletrônicas contemporâneas de Cingapura, o artista já alcançou milhões de plays no YouTube e Spotify e configura como um fortes candidatos do hip-hop asiático a alcançar atenção internacional.
19TYGER
País: Tailândia
Considerado o rapper mais talentoso da Tailândia, 19TYGER é filho de mãe tailandesa e pai afro-americano. Nascido no subúrbio da capital Bangkok, o jovem tem ritmo acelerado e ficou famoso pela rápida velocidade de suas rimas. As letras, sobre espírito de comunidade e vida periférica, desafiam o racismo enfrentado pelos afro-asiáticos em um continente de vívidos e vividos contrastes.
HULLERA
País: Malásia
Fazendo rap em malaio com estilísticas do inglês, a rapper Hullera tem impressionado como revelação de gênero – e do gênero. Seus versos, trabalhados em lirismo asiático, funcionam como uma locomotiva movida à vapores ocidentais. Seu single Biarkan, já atingiu mais de um milhão de visualizações no YouTube e traz a presença feminina a cena underground do hip-hop na Ásia.
AL JAMES
País: Filipinas
Al James é “o cara” dos últimos tempos. O rapper filipino explodiu nos últimos anos e hoje sua batida é a trilha sonora dos carros, barbearias e festas da capital Manila. Os vídeos do artista se tornaram famosos pela paleta de cores roxa e são um contraponto estético ao caos da vida nas megacidades asiáticas. Al James tem como foco as facilidades – e dificuldades – da vida urbana filipina, refletidas no trabalho artístico de seus clipes musicais.
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